sábado, 7 de agosto de 2010

Lembrança de papai.

     Clara era uma menina extraordinária. Tanto quanto seu pai, um homem respeitado e sensato. Acima de tudo, um racional, sempre guiado pela lógica. A lembrança mais antiga que Clara tinha do seu pai aconteceu quando ele estava consertando seu carro, no quintal de casa, naquela tarde de 68. Após terminar o reparo no automóvel, ele teve um dialógo com Clara, enquanto guardava as ferramentas que utilizara. A breve conversa entre pai e filha aconteceu assim:

    - Clarinha! Tá fazendo o quê aí? - perguntou.
   - Oi pai...tô fazendo nada, só olhando.
   - Clarinha, você está crescendo muito rápido...como o tempo passa!
   - Eu já tenho 5 anos e meio! - disse isso enquanto demonstrava com seus dedinhos a idade que possuia. 
   - Pois é, filha. Um dia você vai aprender uma coisa. Você não deve se afobar em momento nenhum, em qualquer circunstância que seja. Uma pessoa que não é centrada, equilibrada e não tem a razão ao seu lado, não ganha nada além de desespero. O apocalipse pode estar ocorrendo lá fora mas nós, os guiados pelo logos, não nos abalamos. Ficamos tranquilos, sensatos, e estabelecemos uma estrátegia. Evidentemente, em seguida, corremos com todo o fôlego que temos, porque não somos idiotas. - falou o pai, deixando escapar uma risadinha sacárstica, ao terminar de dizer a última frase. - Venha! Vamos para casa, tá escurencendo. - disse o pai, encerrando a conversa.

     Aos cinco anos de idade, obviamente esse diálogo serviu apenas para deixar Clara bastante confusa. Se brincar, até hoje ela não entendeu o que o pai quis dizer naquela época. Mas era a lembrança mais antiga que tinha com ele; isso deve ter lá sua importância. E sempre, durante o segundo domingo do mês de agosto, Clara se lembrava dessa cena, sobretudo agora, após sua morte. Seu pai sempre estará em sua memória assim: um misto de razão e non-sense. E acima de tudo, como o homem exemplar, a quem ela tanto amou e amará.