domingo, 17 de janeiro de 2010

O nascimento de Roditi.

(...)





     Smirtri Nepoverjik era um croata que morava na cidade de Zagreg, capital da Croácia. Aos 18 anos, Smirtri, como todos os garotos de sua idade, fora obrigado a se alistar nas forças armadas da República da Jugoslávia. Deixou o conforto de seu lar, a segurança e o afago de sua mãe e, por fim, abandonou a violência e alcoolismo de seu pai. E por isso ele era grato, porém é claro, ressentia-se por ter que deixar sua mãe com o próprio Leviatã. O destino cumpre seu papel de justiceiro às vezes, de modo que não foi necessária tanta preocupação por parte de Smirtri, seu pai morreu depois de um ano que ele havia deixado sua casa. Mas também o destino é injusto, pois nesse mesmo ano, Smirtri morreu.

     Quisera o azar bater na porta de Smirtri. E o azar bateu. Bastante forte. Explico: ao entrar no exército no ano de 1990, Smirtri realizou seu treinamento com eficácia, sujeito perspicaz que era, destacando-se dos demais em seu pelotão. Entrou para a artilharia. E como ele atirava bem. Enfim, no ano de 1991, Smirtri conheceu a morte, quando, durante a Guerra de Independência da Croácia, levou um balaço no peito e mais algumas balas espalhadas pelo corpo. Faz-se preciso contar um pequeno detalhe, contudo bastante necessário para o entendimento dessa história: Há um bom tempo atrás, Smirtri definiu-se Ateísta, ainda que a religião católica fosse maioria na Croácia. E por isso, essa história possui sua beleza e unicidade.

     Após morrer, Smirtri foi conduzido a uma espécie de purgatório onde seria julgado pelos seus pecados, o que já causou uma leve onda de terror nele, devido ao seu ateísmo. Smirtri estava em um lugar fechado, apesar de ser muito estranho, ele conseguia ouvir certo tipo de música, clássica pra ser mais exato, tocando ao fundo. Ao seu encontro veio Bog, “gospodar svemira”, o epíteto croata para “Senhor do universo”. Bog era um ser indescritível. Smirtri não conseguia identificar algum traço Nele que pudesse ser levado em consideração para se fazer um retrato-falado, por exemplo. Sendo assim, toda a descrição de Bog é desnecessária, apenas é importante saber que Ele era um ser supremo, isso bastava. Teve início o julgamento de Smirtri.

     - Meu filho, criatura minha, Smirtri, vindo da família Nepoverjik da Croácia, que tens a dizer em sua defesa? – Bog nem sequer abriu a “boca”, mas Smirtri ouviu tudo isso perfeitamente.

     - Grande Bog, senhor do universo, o que eu poderia dizer para mudar seu Divino julgamento perante minha pessoa? Como pode uma formiga vencer um gigante elefante? – respondeu com outra pergunta, Smirtri.

     - Nesse ponto, tens razão, mortal Smirtri. Teu julgamento já estava decidido antes mesmo de tu nasceres. És um mortal inteligente, e nisso me agradas. – ponderou Bog.

     - Posso pedir ao menos um pouco de misericórdia? Não é o que pede todo mortal no seu julgamento, no fim trágico da vida? – indagou Smirtri ao Supremo Ser.

     - Infelizmente, mero mortal, isso não é possível. E te digo o porquê. Tens por filosofia o ateísmo, pecado máximo. Tua sentença já está escrita e se concretizará, irás para o Inferno e deste destino não desviarás. – disse Bog.

     - Supremo ser Bog, humildemente aceito tua sentença, por que a formiga não se opõe ao elefante. Porém se não for demais, e se for de Tua vontade, concede-me três desejos? – pediu Smirtri.

     - Mortal, tua ousadia, assim como tua inteligência me agrada. Dar-te-ei essa última extravagância. Como a Minha sapiência é enorme, já sei quais são os teus desejos e não vejo mal nenhum em agrada-lo. Venha. – disse suavemente Bog.

     Os três desejos eram: Ver a origem do universo, saber se havia vida extraterrestre e por fim, conhecer o sentido da vida. E os desejos foram saciados em um tempo incontável, não sabendo se a odisséia de conhecimento durou 3 segundos ou 3 eras terrestres. O que se sabe é que agora Smirtri era o ser humano mais inteligente da terra, cargo esse, teve efêmera duração, como todas as coisas da vida. E então Bog disse:

     - Smirtri, minha querida criação, é chegada a hora de tua predestinação. Irás para o inferno, como já havia dito e julgado previamente. Vá agora. – imperou o Ser Supremo.

     E a ordem de Bog se fez cumprida. Smirtri viu-se deslocado de onde estava antes para um local extremamente escuro. Sentiu seus cabelos caírem aos montes, seu corpo sendo esmagado, ficando umas cinco vezes menor do que o normal. Não conseguia ouvir nada, ver nada e muito menos respirar. Seu único sentido, era a mente, se é que pode se chamar tal coisa desse nome. Do lugar escuro, uma pequena fresta de luz surgia, que claro Smirtri não via nem percebia nada. E essa fresta ia ficando cada vez maior e maior. E maior e maior. Até que ele foi puxado pra fora do lugar por alguma coisa, ou alguma força. E a luminosidade, antes uma fresta, virou um enorme feixe de luz, que obrigou Smirtri a perceber um leve detalhe, sua visão voltara ao normal. No intermédio, sentiu uma dor na região do umbigo e logo a maior dor de sua vida (ou morte). Recebeu um violento tapa que o fez recuperar a habilidade de respirar, embora não conseguisse falar nada. Mas o tapa, de tão violento trouxe uma seqüela, a perda do seu sentido mais importante, a mente. Smirtri chegara enfim ao inferno. (...)

     Um belo bebê acabara de sair do ventre materno. Todas as providências médicas foram tomadas, desde o corte do cordão umbilical até o tapinha e, conseqüentemente, o primeiro choro de um pequeno ser humano, o primeiro de muitos, é verdade. Um nome muito especial fora dado a esse pequeno vivente, Roditi.



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