domingo, 10 de janeiro de 2010

A Taverna pós-moderna. - Uma descrição.



Por volta das duas da manhã, Einsam entrou na taverna. A escuridão causada pela falta de iluminação decente tornava o ambiente um pouco macabro, à primeira vista. Depois que os olhos se acostumam à luz de velas, percebe-se um novo mundo ao entrar lá. Assim que chegou, Einsam pode ouvir uma velha música que tocava no som do bar; uma música realmente velha que começava assim: “Welcome my son, welcome to the machine”. Einsam tentou profundamente se lembrar a quem pertencia aquela música mas sua memória já não funcionava tão bem assim depois de ficar exposto à fumaça e poluição da rua. Um sacrifício que foi obrigado a fazer, para assim chegar ao seu bar preferido.

     Basicamente, eram as mesmas pessoas que freqüentavam a taverna pós-moderna. Claro, as pessoas relutantes em aceitar o pensamento maçante da época, que reverberava em todos os cantos, costumes e moda da gente daquele tempo, sendo a taverna o único lugar resistente a esse pensamento, daí surgiu o nome “Taverna Pós-moderna”. Einsam gostava do nome e sempre foi grato por alguém ter tido esse idéia de criar um lugar destoante dos demais.
    
     Logo na primeira mesa, um casal que estava junto há quase 20 anos. Eles passaram por diversas crises internas e até pela Segunda Grande Depressão, que resultou numa enorme quantidade de divórcios e por conseqüência, a queda da taxa de natalidade do país. Se eles sobreviveram a isso como casal, é alguma coisa. Todos os sábados eles iam à taverna ficavam lá até tarde. Mas à frente, ficava uma mesa ocupada pelos bardos e os literatos, um grupo seleto de pessoas que usavam o ambiente sórdido da taverna como motivo de composição, cada qual em sua respectiva área.

     À esquerda dos literatos, estava a mesa dos políticos, ou como eram atualmente chamados: “Os porcos”. Não era um grupo tão querido pelos demais freqüentadores da taverna, mas convenhamos, estamos em lugar que filosoficamente aceitava-se os demais tipos de pessoas, talvez por ser contra o pensamento atual era necessário que houvesse tais concessões. Ora, até aos homossexuais era permitida a permanência no local, depois de anos de luta e preconceito. Um pouco mais atrás da entrada da taverna, ficava a mesa dos cineastas, jovens tolos que discutiam esse tipo de arte, mesmo depois da falência e do fim de todos os cinemas do país. Não me lembro o motivo de tal acontecimento, mas foi algo gradual. Depois de um tempo o cinema ia perdendo toda sua graça, os grandes cineastas desistiam de brigar por suas idéias ao invés de se juntarem ao cinema comercial, enfim, foi uma grande perda pra cultura da sociedade. Mas discutir alguma coisa depois de ela estar morta, era uma grande idiotice, pensava Einsam.

     Lá no fundo, na última mesa, ficava Einsam e seu violão. Enquanto entoava uma canção que compuseram antes de chegar ao local, ele via os bêbados e as prostitutas da mesa ao lado da sua. “Iconoclastas”, com certeza diria Einsam, mas ele ficou calado, preferiu não gastar sua paciência com isso. Porém pensou: “A esses tipos de pessoas está confiado o futuro da revolução pós-moderna...estamos acabados”. Pediu uma cerveja e se recolheu a seu monstro de escuridão e rutilância.



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